quarta-feira, 2 de julho de 2008

Escolhas

Nunca imaginou alguma vez vir a sentir aquilo. Na verdade, nunca imaginou alguma vez vir a sentir. Sentia-se, pela primeira vez na sua vida, verdadeiramente livre. Livre de pressões, de depressões, de juízos e auto-repressões. Livre de si mesmo. A felicidade, um conceito no qual já havia perdido a esperança, inundava o seu ressequido coração com uma alegria impossível de descrever e, até há poucos momentos atrás, impossível de sentir.

Havia passado grande parte da última hora a tentar-se convencer que se estava a iludir, que era impossível uma mulher tão gira e inteligente estar sequer remotamente interessada num tipo como ele, que era a bebida a falar. Era um debate interior que se originava na sua cabeça desde que tinha descoberto a irresistível sedução do outro sexo. E de todas as vezes que tal acontecia, o seu coração era brutalmente derrotado pela sua racionalidade.

Por isso estranhou tanto quando deu por si a considerar sequer a hipótese de correr um risco para ser feliz. Tinha passado tantos anos a controlar-se que o ténue vislumbre de uma vida espontânea o inebriava, de uma forma muito mais intensa que qualquer copo que alguma vez tivesse bebido.

Sabia que tinha muitos esqueletos no seu armário, muitos segredos que nunca poderia vir a partilhar. Mas o amor não é um sentimento de pequenas mentiras, mas de grandes verdades. A vida era uma sucessão de escolhas e, por uma vez na vida, escolheu ser feliz.

Quando ela voltou a olhar para ele, deixou o seu mais puro sorriso falar:

- Tenho uma coisa a dizer-te.
- Ok... mas agora espera só um bocadinho – respondeu, levantando-se – Vem aí o meu namorado...

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