quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

E Depois?

No outro dia voltei a pensar sobre a morte. Detesto quando o faço. O meu coração entra em queda livre num precipício de angústia e neurose, cada vez mais apertado à medida que vai descendo, gradualmente metamorfoseando num pequeno ponto negro de tudo o que há de pior na alma humana. Normalmente passa ao fim de pouco mais de cinco minutos, mas são sempre os piores cinco minutos da minha vida...

Tenho um medo terrível da dor incontornável dos últimos estertores da morte, mas não é essa a razão por que me angustio. Tenho uma vergonha inabalável da possibilidade de morrer sem ter causado um verdadeiro impacto no mundo, mas não é essa a razão por que sou neurótico. Sou perseguido diariamente por instintos de auto-depreciacão pela minha incapacidade genética de ‘jogar ao amor’, mas não é essa a razão por que temo a morte.

Sou egocêntrico. Muito egocêntrico. O meu mundo começa e acaba em mim (são raras as vezes em que o admito abertamente, mas os meus melhores dias são aqueles em que resisto ao impulso de controlar quem eu verdadeiramente sou). Como tal, não consigo conceber o mundo sem mim. A minha racionalidade compulsiva não consegue conceber a ideia de uma estação final. Do fim da viagem. De não ter mais nada para fazer. Parar de respirar. Parar de viver. Parar de pensar.

Nos meus momentos de maior fraqueza e fragilidade, entretenho-me com a mentira de uma vida após a morte. Duvido que fosse para o Céu, mas não porque ache que iria para o Inferno. Adorava ter uma oportunidade de dizer a Deus o que penso dele, mas não creio que passe dos primeiros portões. Tenho a certeza que me tornaria um fantasma, um espírito invisível com assuntos por resolver – a divina ironia. Mas, francamente, não teria ninguém para assombrar...

2 comentários:

AR disse...

Já sou um fantasma sem ter morrido. Qual a vantagem de ser uma alma penada?

João G. disse...

"O meu mundo começa e acaba em mim", ou mundo começa e acaba sempre em nós, porque nós, na nossa própria individualidade, é que constriuimos o que vemos e o que interpretamos como mundo.

;) JGUILHOTO