segunda-feira, 1 de junho de 2009

Carta de Amor

(coluna escrita para o jornal Mundo Universitário)

Adoro escrever. Quando uma frase verdadeiramente bem escrita aparece na página branca que antes ocupava o ecrã do meu computador sinto-me com o poder de fazer magia. Odeio escrever. Nunca me sinto tão desesperado do que quando passo seis meses a olhar para uma página branca.

Quando me foi pedido para escrever esta coluna, fiquei vários dias a procurar uma forma perfeita de descrever o amor que sinto pela escrita e senti-me, invariavelmente, perdido em contradições. Eventualmente percebi que era exactamente essa a razão porque a escrita é – e será sempre – o meu primeiro e mais honesto amor.

Não é fácil ser um perfeccionista. Não é fácil rejeitar as constantes ofertas que o Universo te oferece por não serem o quadro perfeito que tinhas imaginado. Não é fácil rejeitar amor por medo de ser rejeitado. Não me é fácil viver. Mas quando escrevo... bem, aí tudo parece fazer sentido. Escrever é uma forma de construir um mundo perfeito. Um mundo onde todas as personagens se comportam exactamente como tu queres. Um mundo onde governas como Deus. Um mundo em que... bem, continuo a ser rejeitado...

O meu livro chama-se “Escolhas”. É sobre um rapaz que é raptado por um “serial killer”. É sobre tortura – física e emocional. É sobre solidão, depressão e humor. É sobre as escolhas que tomamos na nossa vida e até que ponto é que somos fruto das nossas circunstâncias ou animais de instinto. É sobre o que a minha vida é e o que podia ser. É sobre mim – para o melhor e para o pior.

Saber que outras pessoas estão a ler aquilo que durante tanto tempo só viveu no meu complicado cérebro, enche-me de vida como nada antes me encheu. É por isso que quando escrevo capítulos inteiros dedicados ao modo como é agradável o cheiro a sangue borbulhante acabado de jorrar do pescoço inocente de uma vítima apanhada de surpresa pela sede de matar, no fundo – ali bem, bem no fundo – estou a escrever uma carta de amor.

6 comentários:

Maria Ana disse...

Estou quase a começar :)

T. disse...

partilho o teu amor. :)

Joana Penna disse...

Quedas!
Aqui do outro lado do Atlântico sinto que as tuas palavras podiam ser minhas também.
Muito bom :O)

pina-me disse...

É bom saber que por detrás daquele teu livro está, ainda que bem lá no fundo, o sentimento de amor. Começava a ficar assustado e a não querer estar sozinho na mesma sala que tu =p
Gostei da coluna.
Grd abraço

Gui disse...

Sim, de cada gota de sangue que lia no teu livro, eu soltava um "ohhhh" bem "quido"... :P

Já te dei os parabéns ao vivo mas posso repeti-lo aqui... Parabéns pelo "Escolhas". :)

gui
(ramboiablog.blogspot.com)

Fátima disse...

oh =') permites-me que guarde este teu texto? e by the way, onde é que posso encontrar o Escolhas? já anda pela fnac? =)

beijinhos,
FCasanova :P